sexta-feira, 20 de maio de 2011

Esperança Desesperada

(origem da imagem: google * )

O comboio partira bem cedo, ainda de madrugada, daquela invicta cidade repleta de gentinha despreocupada com o infectado mundo em seu redor. Um mundo, uma terra, um povo infectado pela corrupção, pelas guerras políticas e civis, e acima de tudo pela mentalidade egoísta e egocêntrica de quem habitava naquele horrendo ninho. Naquela longa viagem de dez horas encontrava-se Pedro, um homem quarentão que apresentava um aspecto completamente decadente, a sua cara branca como uma folha de papel e os seus olhos negros como carvão estavam completamente arregalados. Aquele homem transparecia medo, pois sim, ele estava completamente aterrorizado, a sua bomba estava extremamente acelerada e impulsionava com uma tremenda rapidez sangue para todas as veias do seu descarnado corpo. Algo inquietava aquele estranho homem, algo de muito grave, mas o que seria?

Passaram-se quatro longas horas de viagem, eram agora dez da manhã quando o comboio estacou numa estação, onde embarcaram algumas pessoas. Pelo corredor do comboio caminhava uma bela jovem de longos cabelos louros e olhos azuis, que num gesto muito educado e subtil perguntou a Pedro:

- Posso sentar-me aqui?

Pedro limitou-se a assentir com a cabeça, sem pronunciar uma única palavra. Posto isto, a jovem sentou-se ao lado daquele desconhecido homem e fez algumas tentativas de formular uma conversa com ele, embora todas elas em vão, até que ele se manifestou.

- Tem tabaco? – perguntou-lhe com a sua voz grossa.

- Tenho sim! – exclamou a rapariga enquanto que retirava o tabaco da sua bolsa.

- Obrigado. Também vai para a Terra dos Ricos? – perguntou-lhe arqueando as suas peludas sobrancelhas.

Sim, sim não queria ficar numa terra desprovida de oportunidades. Queria ir em busca do sonho!

- Pois, o sonho, vais tê-lo, vais … - murmurou sarcasticamente, sem que ela ouvisse.

Eu também tinha muitos sonhos, mas num fechar de olhos tudo tinha acabado.

- Oh, acabou porquê? Afinal a esperança é a última a morrer, meu caro. – disse ela como palavras de consolo.

Não, não queria por a felicidade de quem amava em risco. Não, não seria egoísta a esse ponto!

- Mas porquê? Como poderia colocar em risco a felicidade de quem ama só por ir em busca do seu sonho? Aposto que essas pessoas ficariam felizes se o vissem concretizado! – exclamou a rapariga.

- Você não entende nada, nem tem que entender. Deixe-me, não dialogue mais comigo, afinal não me conhece de parte nenhuma. Como dizem não devemos confiar nos estranhos e como tal, eu não mereço a sua confiança ou palavras de consolo. – disse ele exaltadamente.

- Desculpe, não era minha intenção perturbá-lo. – disse inquietamente.

Posto isto, Pedro levantou-se e ergueu a sua mala e seguiu rumo à cabine do maquinista daquele velho comboio. O Pedro tremelicava por todos os lados, estava agora ainda mais pálido do que inicialmente, as suas mãos estavam completamente gélidas, ele parecia um autêntico cadáver pensante. Pedro retirou nervosamente algo da sua mala, o que seria? Era uma arma, uma Colt de 9.0 mm e apontou-a à cabeça do maquinista e disse bem alto para que todos os passageiros ouvissem:

- Isto não é um assalto, é um atentado terrorista e vamos morrer todos, inclusive eu. Eu não queria que isto acontecesse, eu não queria. Mas se eu não o fizer, eles matam a minha família, matam mesmo. Dentro desta mala eu tenho uma bomba, basta accioná-la e vamos todos pelos ares. Meus amigos, é assim a injusta vida que temos.

Os passageiros estavam completamente aterrorizados, e isto notava-se perfeitamente através das suas testas dominadoras e os seus olhos medonhos. Será que iriam morrer mesmo naquele dia, naquela hora, naqueles próximos minutos?

Não, não queriam ficar ali esbulhados e estendidos naquelas terras desconhecidas.

- Bem, chegou a nossa hora, meus caros. E bem em três, dois, um. BOOOM.

O comboio estacou ali imediatamente e explodiu e pelos ares viam-se pernas, troncos, braços, mãos, cabeças, projectadas a metros de distância do local do acidente. Via-se também sangue, muito sangue, muitas vezes este é sinónimo de amor, mas desta vez é sinónimo de destruição, de desgaste e de demolição de vidas humanas. Ali naquele local ficaram muitos sonhos, muitas vitórias e muitas derrotas por conseguir, mas porquê? Ora bem, é simples, tudo isto deve-se ao egoísmo e mesquinhez do ser humano.

p.s: Este pequenino conto foi escrito para a disciplina de Português, na qual tinhamos que eleborar um texto ao estilo Queirosiano.

Francisca Araújo

2 comentários:

  1. Sem dúvida que tem estilo queirosiano sobretudo na descrição detalhada das coisas.

    Quanto ao texto em si aborda (tal como o Eça) um assunto que vemos todos os dias, infelizmente. Está muito bem escrito e dá para ver que podes escrever sobre vários temas sejam eles mais alegres ou mais sérios.

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