segunda-feira, 26 de julho de 2010

A crueldade e dureza da vida *

( fotografia por mim ) *

Lembro-me como se fosse hoje, daqueles tempos em que eu era uma criança, repleta de ingenuidade e inocência, achando que o mundo girava a meu redor. Com o passar do tempo, fui crescendo e crescendo e fui-me apercebendo que a vida não era o conto de fadas que eu pintava. A vida é muito mais dura e cruel que uma criança possa imaginar. Nesta fase de crescimento conheci um amigo que me ajudou a abrir os olhos e ver o que era realmente a vida, este meu amigo chamava-se Norberto Rodrigues e devido a um problema de saúde andava numa cadeira de rodas, mas não pensem que era este simples facto que impedia o de ser feliz, o Norberto foi até hoje a pessoa que conheci que tinha mais força e garra para viver e sempre com um sorriso no rosto. Ele tinha uma força inacreditável, que me fazia pensar “ porque é que eu por vezes me lamento por coisas tão banais, onde há pessoas que têm o dobro dos meus problemas, mas que no entanto sabem aproveitar a vida e lutar contra os obstáculos que têm de enfrentar “. O Norberto não só me ensinou a dar valor á vida, como também me ensinou o verdadeiro valor da amizade, pois como ele dizia “ A amizade não se improvisa, surge como o sol no coração da noite “ e assim foi que eu passei a encarar a amizade e defini-la como um sentimento que cresce por acréscimo e não de um dia para o outro.

Como já disse a vida é cruel e dura e foi no dia 29/10/2008 que pregou uma partida ao Norberto e trocou-lhe as voltas e ele acabou por falecer, deixando para trás muitas vitórias, ambições e, sobretudo, sonhos. Senti uma grande dor que ainda hoje permanece em mim e ao mesmo também senti um sentimento de injustiça, pois como é que um lutador como ele, partiu assim do nada? Outro sentimento que me persegue é revolta em relação a certas pessoas, que na altura em que o Norberto estava vivo não lhe ligavam nenhuma, mas só para parecer bem após o seu falecimento tiveram a mesquinha ideia de deitar lágrimas falsas, que nem um pingo de dor esboçavam. Porquê e como é que os seres humanos conseguem ser tão mesquinhos, ao ponto de fingirem o próprio sofrimento? Era necessário tudo isto, apenas para ficarem bem vistos? Eu acho que não, pois fingimento não é coisa que conste no meu ideal de vida e não é ao demonstrar a sua falsa dor que estes seres foram admirados e lisonjeados, muito pelo contrário, foram vistos como pessoas mesquinhas e sem moral nenhuma.

O tempo passou e passou e já lá vão quase dois anos após a sua partida e é com muita saudade que recordo todos os momentos que passei com ele, lágrimas foram muitas as que deitei, mas agora aprendi a encarar esta triste realidade de outra forma e lembro-me dele como um grande amigo que me ensinou a crescer e sobretudo ensinou-me a lutar e nunca desistir dos meus sonhos, pois por mais barreiras que tenhamos, devemos ter garra e capacidade de definir os objectivos que queremos atingir e assim iremos conseguir chegar à meta da vida com uma grande vitória carregada por cima dos nossos ombros, do nosso ser.

Após ter conhecido e ter passado muito bons momentos com este espectacular rapaz considero-me uma outra pessoa, que vai crescendo, mudando de forma, deparando-se com alguns obstáculos que têm de ser ultrapassados, nem sempre com a melhor solução, mas apesar de tudo ergo a cabeça e sigo em frente de modo a honrar e a orgulhar o espaço que se encontra preenchido no meu coração, por todas as pessoas que de certa forma me fizeram e fazem feliz, tal como o Norberto.

Estejas onde estiveres, Norberto, eu nunca me irei esquecer de ti e continuarei a gostar de ti como o belo amigo e exemplo que foste, gravando sempre na minha memória tudo o que passamos juntos e digo-te mais, eu orgulho-me de ter-te conhecido e embora o teu corpo já não esteja entre nós, a tua alma estará sempre presente em mim para o resto da minha vida.

Um beijo repleto de saudade,
Francisca Araújo

7 comentários:

  1. Sónia Araújo26/7/10

    Parabéns filha, gostei imenso dos teus textos, estão muito bonitos e vemos claramente que foram escritos com o coração aberto... Tenho muito orgulho em seres quem és e especialmente seres minha filha.
    Beijinhos, adoro-te muito.

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  2. Joana Serrao *26/7/10

    Gostei mesmo do texto , Kika +.+
    Ele esteja onde estiver estara sempre a olhar por ti (:

    Força , Beijinhos *

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  3. que simpática, Francisca, obrigado!
    texto muito sincero, transparente, vindo de dentro. Gostei... força aí!

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  4. és muito atenciosa :')

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  5. A par do cativar coloca-se a questão de "será que gostamos de gostar da pessoa?", esta questão é mesmo pertinente p'ra mim (:

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  6. Gosto da tua escrita
    ;D
    continua
    XD

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  7. Anónimo10/8/10

    Achei este texto bonito. Num texto o mais importante são os sentimentos, não a ortografia ou a caligrafia (quando escrito à mão). Um texto tem de servir de grito, de desabafo, de exposição de verdades inconvenientes (como quando referiste que muitas pessoas só se importaram depois de ter tudo acontecido).

    É difícil lidar com o desaparecimento físico de alguém, ainda para mais de um amigo que vemos (quase) todos os dias. Não digo morte por achar essa uma palavra feia, não a digo porque simplesmente não transmite a realidade das coisas. Desaparecemos fisicamente, mais nada. De resto continuamos sempre aqui. Acredito piamente nisso.

    Também já perdi uma pessoa muito importante e muitos dos meus textos são dedicados a ele. É bom escrever para alguém que nos dá sempre importância, mesmo que não o possa dizer frente a frente.

    Beijinho e excelente texto.
    E força para os dias menos bons que possam surgir (embora espere que não, claro)

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